
Essas novas descobertas também sugerem que este precursor da maioria dos mamíferos surgiu logo após a catástrofe que acabou a era dos dinossauros , acrescentaram os cientistas.
"Espécies como roedores e primatas não partilharam a Terra com os dinossauros não voadores, mas surgiram a partir de um ancestral comum - um pequeno animal insetívoro e corredor - logo após a morte dos dinossauros", disse a pesquisadora Maureen O'Leary, da Stony Brook University em Nova York.
O estudo foi tão profundo que a equipe, formada por 23 cientistas de todo o mundo, foi capaz de especular sobre a aparência desse ancestral hipotético por dentro e por fora, a partir de seu cérebro e os ossos do ouvido interno, seus ovários e até mesmo como seu espermatozóide pode ter parecido (que ostentava uma cabeça e cauda como os espermatozóides atuais).
O maior ramo da árvore genealógica dos mamíferos contempla os placentários - mamíferos que mantêm fetos vivos com placentas, ao contrário de marsupiais, como cangurus, que sustentam a prole em bolsas, ou monotremados como ornitorrincos, cujos fetos se desenvolvem em ovos.
"Existem mais de 5.100 espécies placentários vivas, que exibem uma enorme diversidade", disse a pesquisadora Nancy Simmons no Museu Americano de História Natural.
As raízes da placentários
Muita coisa permanece controversa sobre as origens do placentários, como quando eles surgiram e como se diversificou. Evidências fósseis sugerem que evoluíram após o evento de extinção em massa no final do Cretáceo, cerca de 65 milhões de anos atrás, que levou ao fim da era dos dinossauros e o "modelo explosivo" baseado nesses dados propõe que as linhagens de placentários surgiu e se diversificou para preencher nichos deixados vagos após a catástrofe. No entanto, pesquisas genéticas sugerem que linhagens de placentários eram realmente muito mais antigas, insinuando que a sua diversificação estivesse ligada à separação dos continentes antes do final do período Cretáceo.
"No campo da pesquisa com mamíferos, houve uma grande divisão entre as pessoas que trabalham com DNA e outras pessoas que trabalham na morfologia", disse o pesquisador John Wible, do Museu Carnegie de História Natural, em Pittsburgh.
Para descobrir as raízes da árvore genealógica dos placentários e ajudar a resolver o debate de décadas sobre quando placentários evoluíram, uma equipe internacional de pesquisadores desenvolveu uma de pesquisa de seis anos chamada “Montando a Árvore da Vida”. O projeto adotou duas abordagens distintas para estudos evolutivos - dados moleculares, que examina DNA e dados morfológicos, que olha para as características anatômicas, como o comprimento do osso, tipos de dentes e a presença de listras na pele.
A equipe molecular reuniu seqüências de DNA de animais vivos, enquanto a equipe de morfologia analisou a anatomia de mamíferos vivos e extintos. A equipe molecular foi em grande parte limitada aos mamíferos vivos, porque os pesquisadores atualmente não conseguem extrair material genético de fósseis de mais de 30.000 anos de idade, assim os dados morfológicos foram fundamentais para explorar os ramos mais antigos da árvore genealógica dos mamíferos.
"Descobrir a árvore da vida é como montar uma cena de crime - é uma história que aconteceu no passado, que você não pode repetir", disse O'Leary. "Assim como com uma cena de crime, as novas ferramentas de DNA fornecem informações importantes, bem como as outras pistas físicas, como um corpo, ou, no âmbito científico, fósseis e anatomia. A combinação de todas as provas produz a reconstrução mais completa de um evento passado.”
Banco morfológico de mamíferos
Quando se trata de estudar morfologia, um conjunto de 500 características anatômicas, ou "caracteres", é geralmente considerado grande. No entanto, para este novo projeto, os pesquisadores geraram 4.500 caracteres inovadores usando um banco de dados de acesso público baseado em nuvem chamado MorphoBank.
"Nós não poderíamos ter feito isso sem MorphoBank", disse a pesquisadora Michelle Spaulding, do Museu Carnegie de História Natural. "Este website permitiu que membros da equipe, espalhados por todo o globo, pudessem trabalhar simultaneamente."
A combinação de DNA e conjuntos de dados morfológicos levaram a uma quantidade sem precedentes de informações para cada um dos 83 mamíferos que investigados.
"Não é que não tivéssemos combinado morfologia com DNA antes", disse Spaulding. "Desta vez, nós intensificamos fenomenalmente a quantidade de detalhes morfológicos, proporcionando uma maior base anatômica para o estudo, em comparação com o DNA do que o normal."
Como nosso ancestral se parecia?
De todos esses dados de mamíferos vivos e extintos, os cientistas extrapolaram o aparecimento do mais recente ancestral comum de todos os mamíferos placentários.
"Nós temos todas esses placentários vivos hoje, de elefantes a musaranhos, de voadores a nadadores", disse Spaulding. "Como poderia, possivelmente, se parecer o ancestral comum desses seres que são tão diferentes?"
Os cientistas então trabalharam com um artista para ilustrar esse ancestral. Além de um rabo peludo, os pesquisadores sugerem que a criatura de quatro patas provavelmente comia insetos, pesava de seis gramas (aproximadamente o peso de alguns musaranhos) até 245 gramas - menos de meio quilo - mais adaptado para correr, que desenvolveu formas mais especializadas de movimento, tais como balançar em árvores. Além disso, seu córtex cerebral - a parte do cérebro ligada a processos mentais superiores - provavelmente possuía complexas dobras ligadas a uma grande atividade cerebral, segundo os pesquisadores.
"Esse é o poder de 4.500 caracteres", disse Wible. "Nós olhamos para todos os aspectos da anatomia dos mamíferos, a partir do crânio e esqueleto, até os dentes, órgãos internos, para os músculos, e até mesmo padrões de pele. Usando a nova árvore genealógica dos mamíferos em conjunto com estes dados anatômicos, fomos capazes de reconstruir como esse ancestral comum dos placentários pode ter parecido".
A pesquisa também sugere que os mamíferos placentários surgiram após o fim da era dos dinossauros, tendo o ancestral original se desenvolvido cerca de 200.000 a 400.000 anos após o evento.
"Isso é cerca de 36 milhões de anos depois do que se havia previsto com base em dados puramente genéticos", disse o pesquisador Marcelo Weksler da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Isso apóia a idéia de que a extinção em massa foi um evento crítico na história evolutiva dos mamíferos. "A diversificação dos mamíferos placentários não estava ligado ao rompimento dos continentes a partir de um supercontinente, Gondwana", disse O'Leary à LiveScience.
A discrepância entre estes resultados e as pesquisas anteriores que focavam apenas nos genes é o resultado da forma como os estudos genéticos "atribem uma taxa de variação de genes ao longo do tempo", explicou O'Leary. "A fraqueza dessa abordagem é que ela envolve muitas suposições sobre taxas de variação genética ao longo do tempo."
No futuro, "Vou continuar procurando fósseis-chave do fim do Mesozóico e início do Paleoceno que nos ajudem a contribuir ainda mais para esta árvore genealógica", disse O'Leary. "Eu tenho trabalhado na África para fazer tais descobertas com projetos em Mali e Senegal. Eu pretendo continuar tentando fazer descobertas de fósseis que expandam a árvore genealógica dos mamíferos placentários."
Confira aqui o artigo publicado na revista Science!
Fonte: LiveScience
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