Por: Thiago Camelo
Semana passada, em São Paulo, um evento jogou luz, mesmo sem desejar, sobre uma importante questão da educação brasileira: a distância que existe entre o ensino público e o privado e entre o professor e o aluno. De 28 a 30 de abril, o palácio de convenções do Anhembi recebeu o Interdidática, uma exposição internacional de sistemas e soluções em tecnologia educacional. Por lá, produtos de ponta para serem usados em colégios e em sala de aula foram exibidos. Também houve palestras com importantes nomes do cenário mundial e nacional de aprendizagem. A CH On-line esteve por lá e se ateve, sobretudo, ao que de mais moderno existe no mercado brasileiro para ser usado com os alunos.
Nessa busca, acabamos nos deparando, logo cedo, com uma disparidade. As ideias e os produtos apresentados são – é impossível dizer o contrário – impressionantes. Lousas educacionais interativas, salas de aula virtuais, computadores em cada carteira; coisas que só vemos em filmes.
Em meio aos estandes, havia professores de vários estados do Brasil. Na grande maioria, eram da rede pública de ensino e estavam ali patrocinados pelas suas secretarias de educação. Uma reclamação comum a todos: as tecnologias são incríveis, mas o acesso é praticamente impossível.
Professora explica como vê o pavilhão de exposições
Robótica em sala de aula
Distância, claro, que não ofusca a qualidade dos produtos e a mentalidade progressista de alguns expositores. É o caso, por exemplo, do turco-brasileiro Leon Levi, sócio-proprietário da Modelix, uma empresa especialista na chamada 'robótica educacional'.
Por meio da ideia de 'aprender fazendo', esse tipo de modalidade visa ensinar os alunos – muitos deles novos, a partir dos oito anos – a construir plataformas, garras mecânicas, veículos motorizados etc. Todos os robôs são feitos com o acompanhamento do professor, e, de modo empírico, o estudante aprende os conceitos científicos que estão por trás da construção.
Leon Levi fala sobre como enxerga
o ensino da robótica em sala de aula
Leon se define muitas vezes como "mentor de ideias malucas". Não é. Na fala dele, é possível ler uma reflexão muito serena sobre as novas possibilidades de educação, que não passam mais por ensinar o aluno a mexer no computador (ação que, segundo Leon, toda criança sabe fazer), e sim em como estimular essa habilidade com as máquinas em sala de aula.
Outra distância
- Professores assistem à explicação de como funciona a lousa digital. A maioria deles nunca terá uma em sala de aula (foto: Divulgação).
A fala de Leon é marcante. Em certo sentido, os seus robôs 'obrigam' a interação do aluno com o professor. A presença física de todos – educador, estudante, máquina – na sala de aula é muito importante. Mentalidade bem diferente do que a maioria dos expositores propõe. Boa parte dos estandes promete novas tecnologias de cursos a distância.
Propostas de como integrar professores e alunos afastados um do outro. Prática importante, claro, mas que levanta questão fundamental para ser debatida: até que ponto a necessidade de se suprir distâncias está sendo substituída, em função das novas tecnologias, por um incentivo para que não haja mais interação presencial?
A questão ficou um tanto no ar durante a feira. Algumas soluções (respostas), no entanto, foram apresentadas. É o caso do Konviva, uma rede social que pode ser customizada segundo os desejos de cada colégio. Tem um pouco de Orkut, Flickr, Twitter, MSN na ferramenta.
A ideia não é tirar – distanciar – o aluno da escola. É integrá-lo ao dia a dia do colégio até quando está em casa. Sutil, mas importantíssima diferença. Ainda mais dentro de uma feira que se propõe a discutir soluções de como melhorar o ensino e, sem querer, acaba expondo em sua disposição um dos pontos fracos da educação nacional: a distância, na maior amplitude de sentidos do termo.
Entenda melhor o Konviva
Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line
Disponível em:
http://cienciahoje.uol.com.br/alo-professor/intervalo/uma-distancia-inconveniente
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