Por: Thiago Camelo
Eis uma autoanálise. Um modo de pensar o jornalismo que fazemos tanto na CH On-line quanto na revista impressa e, também, uma forma de discutir divulgação científica no Brasil. É a proposta da educadora Marcia Borin, que defendeu na Faculdade de Educação da USP a tese de doutorado A percepção de ciência e tecnologia dos estudantes de ensino médio e a divulgação científica.
Fomos logo no que nos diz mais respeito e perguntamos para a professora, em uma entrevista feita via Skype (ela estava em Toledo, Paraná): qual é a percepção do estudante de ensino médio em relação às publicações científicas?
– Por tudo o que pesquisei, acho que os adolescentes conhecem muito pouco o que é uma revista de divulgação científica. Mesmo as mais populares e conhecidas, como a Superinteressante, os estudantes apenas 'ouviram falar'. Não sabem direito qual é o conteúdo e nem mesmo se são confiáveis ou não – explica a educadora, que usou diversas publicações em sua pesquisa, mesmo aquelas que não são vistas de modo unânime como uma revista de divulgação científica.
Seu critério, portanto, foi um pouco mais aberto. Se uma publicação tratou de ciência em um nível um pouco mais aprofundado, foi considerada no estudo uma revista de divulgação científica. O que Marcia fez foi confrontar o conhecimento prévio dos estudantes – alunos de ensino médio, de uma escola pública em um bairro da classe média paulistana – com o conteúdo das revistas. E perguntar-lhes: e aí, o que você entendeu do assunto?
Em um segundo momento, a educadora também avaliou individualmente as revistas. Tomando como parâmetro o tipo de tratamento dado a cada assunto e, também, se a publicação respondia as questões que se propunha indagar. Nesse caso, sobrou também para a Ciência Hoje. Leia o trecho em que Marcia destrincha uma capa da CH.
Mesmo considerando revistas que têm um apelo menor ao sensacionalismo, como é o caso da revista Ciência Hoje, podemos observar, por exemplo, em uma de suas capas (edição de agosto de 2008, volume 42), na qual aparece como manchete principal: “A energia do exercício: os combustíveis dos músculos”. Nesse caso, a manchete faz uma relação entre energia e combustíveis, por meio da utilização de uma linguagem que leva um interlocutor menos experiente e com pouco conhecimento em ciências, como demonstraram os estudantes entrevistados, a fortalecer alguns aspectos, especialmente aqueles ligados à tecnologia, deixando em segundo plano os aspectos ligados à ciência.
Marcia faz ao menos uma crítica, na verdade, a todas as revistas que analisou. Mas o tom sobe mesmo quando ela fala do uso dos periódicos em sala de aula. A educadora afirma que somos um país com diversas publicações de gênero científico e que, mesmo assim, o uso delas não é pensado para as escolas.
– Não é possível que, em um país como o nosso, as revistas de divulgação sejam usadas tão pouco. E, quando são usadas, muitas vezes é para substituir o livro didático. Nunca é para complementá-lo. O conteúdo tem de ser questionado, a discussão tem de ir para a sala de aula. Essa é uma das grandes funções das revistas de divulgação científica, e não é explorada.
As conclusões da educadora são um bom motivo para a reflexão de professores e divulgadores da ciência.
Mas este é também um bom momento para lembrarmos que o Instituto Ciência Hoje conta com o PCHAE, o Programa Ciência Hoje de Apoio à Educação. A iniciativa tem como objetivo justamente o que Marcia cobra em sua tese: auxiliar os professores a usar a revista Ciência Hoje das Crianças em sala de aula.
Ciência Hoje
Ciência Hoje das Crianças
Superinteressante
Galileu
Scientific American do Brasil
Pesquisa Fapesp
Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line
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