
Projeto de preservação cria método de monitoramento desses mamíferos por meio da captura de sons. A técnica permite maior conhecimento dos hábitos dos animais e facilita o desenvolvimento de iniciativas de proteção da espécie.
Por: Sofia Moutinho
Fêmea de elefante africano de floresta com filhote. Cerca de 10% da população desses animais são caçados ilegalmente todo ano no Congo (foto: Public Library of Science).Contar elefantes parece coisa fácil – afinal, eles são animais enormes. Mas a tarefa torna-se mais complicada do que se imagina quando se trata dos elefantes africanos de floresta. Por habitarem regiões de mata fechada, o monitoramento das populações desses animais era quase impossível. Até agora.
Cientistas norte-americanos desenvolveram um método de contagem de elefantes que vai muito além do que os olhos veem. Com a ajuda de microfones especiais espalhados pela floresta que captam os sons produzidos por esses animais, os pesquisadores são capazes de estimar o tamanho das populações para melhor preservar a espécie.
Todo elefante se comunica por meio de sons inaudíveis para os humanos. São os chamados infrassons, ondas sonoras extremamente graves com frequências abaixo de 20 Hz. Essas ondas estão menos sujeitas a interferências do que as mais altas e, por isso, conseguem viajar por longas distâncias. Pesquisas anteriores já haviam comprovado que os elefantes da savana africana conseguem responder aos chamados de seus semelhantes a até 4 km de distância e acredita-se que os elefantes de floresta tenham capacidade similar.
Por meio de técnicas de monitoramento sonoro, originalmente desenvolvidas para a observação de pássaros, cientistas do The Elephant Listening Project (Projeto Escutar Elefantes, em tradução livre) do Laboratório de Ornitologia da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, começaram a dimensionar a população de elefantes de floresta no Gabão e no Congo.
O trabalho é descrito em artigos publicados no African Journal of Ecology. Primeiro, os pesquisadores contaram elefantes reunidos em clareiras e registraram os sons que os animais faziam. Depois, cruzaram esses dados com as gravações feitas por microfones espalhados na floresta.
“Mensuramos a relação entre o número de sons emitidos por unidade de tempo e o número de elefantes produzindo esses sons, o que nos permitiu estimar o real número de elefantes em uma área de floresta somente por meio das gravações de seus chamados”, explica o biólogo Peter Wrege, diretor do projeto. “Estamos mais perto de descobrir quantos elefantes ainda existem na região e como eles se organizam.”Organização social complexa
Os elefantes africanos de floresta se organizam em grupos liderados pelas fêmeas e passam a maior parte de seu tempo dentro da mata. Geralmente, são elas que se reúnem nas clareiras com seus filhotes, aos pares ou trios, enquanto os machos andam sozinhos. Segundo Wrege, a organização social desses animais é bastante complexa e os infrassons são fundamentais para que os indivíduos se comuniquem mesmo a quilômetros de distância.
Microfone especial usado para captar os infrassons emitidos pelos elefantes. Cada aparelho consegue gravar diariamente por até cinco meses (foto: The Elephant Listening Project – Cornell University).
Hoje os integrantes do projeto continuam espalhando microfones especiais (que os cientistas chamam de unidades autônomas de gravação) pelas árvores das florestas do Gabão e Congo para finalizar a contagem da população dos elefantes e conhecer seus hábitos de movimentação.
Cada microfone consegue gravar continuamente por mais de cinco meses e tem acoplado a si um receptor de GPS (sigla em inglês para Sistema de Posicionamento Global), que provê informações precisas de tempo e espaço.
Depois, o som captado é alinhado com as informações do GPS, o que permite verificar exatamente a quantidade e a localização dos elefantes. “Os microfones podem captar sons em diferentes lugares ao mesmo tempo, o que nos fornece muita informação sobre esses animais sem que nossa observação influencie o comportamento deles”, avalia Wrege.
Antes do desenvolvimento dessa tecnologia, o monitoramento de elefantes de floresta ficava restrito a eventuais observações aéreas das clareiras e à contagem de suas fezes. O novo método pode ser usado com qualquer espécie que emita sons para se comunicar. Wrege conta que as gravações do projeto já captaram sons de chimpanzés, chamados de gorilas e o canto de diversos pássaros e sapos.
Disponível em:
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2010/01/contando-elefantes-pelo-som
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